Bolsas de reportagem, gerenciamento de carreira, guia do financiamento digital e curso de Jornalismo Empreendedor
IJNet, NiemanLab, AJOR, ESPM trazem dicas sobre oportunidades e talentos às quais qualquer profissional, mas em especial os empreendedores em Jornalismo, precisam estar atentos
A Rede de Jornalista Internacionais (IJNet) fez uma análise muito boa sobre a conveniência das bolsas de reportagem para o trabalho jornalístico em temas específicos, mas também como uma oportunidade de inovar numa startup própria em meio a um ambiente de carência de recursos para monetização das ideias. As bolsas são, num primeiro momento, uma chance de destacar o trabalho de um freelancer investigativo junto a um veículo - ou ao seu próprio -, trazendo reconhecimento e certa popularidade ao seu nome, dependendo da repercussão que o caso tome (se vai resultar num processo na Justiça, no afastamento de uma autoridade, numa investigação do Ministério Público e por aí vai).
"No geral, hoje em dia, bolsas de reportagem são uma oportunidade para tirar do papel ideias de investigações, séries de reportagens e produções que demandam mais tempo, dinheiro e sofisticação em alguma etapa de produção", diz o IJNet. A jornalista Samanta do Carmo, autora do artigo, pondera que as bolsas reportagem são oportunidade para inovação, dentro do conceito de tiny experiment, que é uma ideia também comum em redações tradiionais quando se bucam novos produtos/serviços para o leitor. Diz Carmo: “O foco é aprender e reunir evidências qualificadas sobre algo, geralmente um problema ou pergunta para qual há várias possibilidades de respostas com caminhos bem diferentes entre si. Por exemplo: “meus conteúdos da editoria XYZ têm, mês a mês, menos alcance, tempo de leitura e interação da audiência”, ou “devemos abrir uma nova frente editorial focada em Y ou Z…Você pode gastar horas e horas com seus editores ouvindo suas análises de conjuntura e convicções sobre criar uma editoria sobre ‘Y’ ou sobre ‘Z’. Ou você pode construir propostas para uma bolsa de reportagens em parceria com seus freelancers, focando nos temas em questão e monitorar como sua audiência responde a cada uma ou quais audiências cada uma desperta, por exemplo".
A ideia é aproveitar a bolsa, experimentar e, como diz o manual do empreendedorismo, testar formatos e conteúdos que podem fazer toda a diferença na trajetória da startup. Carmo cita como exemplo o portal Porvir, um instituto de inovação em educação. No texto do IJNet, sabemos que a Porvir ganhou uma bolsa para fazer reportagens sobre justiça climática e racismo ambiental, dois tem que raramente são cobertos pela mídia tradicional: "A plataforma apostou na hipótese de que apesar da educação ambiental estar presente nos currículos escolares, faltava uma abordagem contextualizada para demonstrar aos estudantes que a crise ambiental atinge as pessoas de formas desiguais. Com base na experiência de escolas indígenas, ribeirinhas e quilombolas, a equipe produziu diversos conteúdos sob o tema “Futuro Ancestral na Escola” para estimular professores a mapear as comunidades desses grupos no entorno de suas escolas e trazer o legado dos antepassados dessas lideranças para dentro da sala de aula".
A resposta foi certeira com uma demanda dos professores pelo material de apoio e pela própria reportagem bem acima do esperado. É um exemplo em que um convênio com secretarias de educação pode remunerar a expertise única e se transformar num longo projeto junto a prefeituras sobre o assunto. Nele, as conversas sobre remuneração são variadas.
E onde achar essas bolsas? O próprio portal da IJNet traz sempre oportunidades. Ali, por exemplo, você fica sabendo que a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) está lançando uma iniciativa de cobertura das eleições municipais deste ano que vai oferecer recursos e treinamento para profissionais que não fazem parte do Projeto Comprova, de checagem de fatos, apoiado pela instituição.
Oportunidade : curso de Jornalismo Empreendedor na ESPM
Tá perto do deadline, gente. A ESPM aqui do Rio decidiu reformular o curso "Jornalismo Empreendedor: transformando ideias de mídia em start-ups" para aproveitar a demanda de pessoas de fora do Rio. Então o novo curso de férias, que será realizado de forma híbrida (presencial e online de qualquer lugar do Brasil e exterior), passa a acontecer a partir de 3 de agosto próximo. No curso, vou mostrar o passo a passo e tudo o que é necessário saber para abrir seu próprio projeto ou produto de mídia/jornalismo digital. Falaremos também sobre o que preciso conhecer antes e durante a execução do projeto ou produto, qual a equipe ideal para reduzir as chances de erros e as várias formas de monetizar e monitorar o seu site para mantê-lo sustentável. Tudo com análises de casos brasileiros e estrangeiros. Mais informações aqui. E vamos mudar a cara do jornalismo que se faz nesse país inovando na mídia.
Recurso: guia básico de financiamento do jornalismo digital brasileiro da Ajor
Você já conhece esse guia? Se não, clica aqui e entenda os fundamentos do que você precisa saber sobre como monetizar o seu negócio. O guia - uma parceira entre a Ajor (Associação de Jornalismo Digital) e a Repórter Brasil - "reúne dicas para organizações de jornalismo que estão em busca de recursos oferecidos por organizações filantrópicas. Seja para lançar sua iniciativa, desenvolver projetos inovadores, abrir novas frentes de atuação ou para diversificar as fontes de receitas". Melhor impossível. Aliás, uma das primeiras coisas que a sua startup deve fazer quando tiver uma folga financeira é associar-se à Ajor, um coletivo de plataformas que, ao contrário das associações típicas de veículos da mídia dedicada ao lobby ou ao autoelogio (algumas vêm mudando, sejamos francos), funciona para empoderar (de fato) seus membros. Tem até uma tabela com as fundações, áreas de atuação e site para eventuais solicitação de recursos ou participação em chamadas de financiamento. Dá uma olhada.
NiemanLab: gerenciamento de carreira em tempos puxados e que vale para o empreendedor jornalístico tambèm
Num artigo intitulado “Olá jornalistas, ninguém vem nos salvar: numa era de demissões e aquisições em massa, cabe a cada um de nós estar preparados para a rotatividade", o NiemanLab - mais especificamente, o traz importantes considerações sobre a administração da carreira jornalística em termos de mudança de paradigma como vivemos hoje. As dicas servem tanto para quem sobrevive em redação quanto para quem tenta uma nova empreitada digital. Olha só:
“Os jornalistas devem gerir ativamente as suas carreiras, construir redes profissionais robustas, investir na educação contínua e prestar atenção às notícias empresariais e midiáticas, a fim de surfarem nas ondas dessa profissão turbulenta — e estarem prontos para saltar quando chegar a hora. Chame isso de ABC da sobrevivência e prosperidade como jornalista:
Gerencie ativamente sua carreira. Um trabalho jornalístico é tão exigente que podemos facilmente cair no modo passivo. Pulamos de tarefa em tarefa ou de projeto em projeto, mal respirando. Mas se formos levando sem um plano próprio seu e se o facão passar pela redação - e você sabe muito bem que isso pode acontecer - de repente percebemos que perdemos a oportunidade de desenvolver novas competências e de executar projetos concretos que irão gerar resultados mensuráveis e nos ajudar a conseguir uma nova posição (ou nos credenciar para abrimos nosso próprio negócio - acréscimo meu). Pode ser tão simples quanto dedicar de três a quatro horas no início do ano para definir metas específicas suas e depois verificar você mesmo a cada uma ou duas semanas revisando e atualizando este progresso. Minha colega Laura Vanderkam escreveu um romance de 80 mil palavras em jornadas semanais de apenas 2 mil palavras. Você pode tornar o planejamento de carreira uma prioridade com pequenos avanços semelhantes.
Construa redes de relacionamento (networking) fortes. Uma das coisas que gosto em ser freelancer em tempo integral é que isso me obriga a sempre nutrir e aumentar minha rede de contatos. Quando você está empregado, é fácil não dar valor aos seus colegas (em outros veículos ou do outro lado do balcão - destaque meu). Não faça isso. Reserve alguns minutos extras no início ou no final de uma reunião para conversar pessoalmente com outros profissionais. Compartilhe interesses. Pergunte o que seus colegas esperam alcançar em seu trabalho, para que você possa procurar maneiras de apoiá-los. Entre em contato com ex-colegas de trabalho periodicamente para se atualizar. Dessa forma, se você precisar de ajuda inesperadamente, isso não acontecerá do nada. As pessoas gostam de ser prestativas, então, quando você pede uma apresentação para uma entrevista sobre você ou um projeto, você está dando a elas a chance de fazer uma boa ação. Outra forma de fazer networking: seja voluntário em sua associação profissional (alguém falou em Ajor aí? - aparte meu). Ao trabalhar em projetos com pessoas de outras organizações, você os conhecerá, mostrará que é confiável e responsável e obterá insights que vão além do lugar onde você está. Novamente, você verá que pequenas quantidades de tempo regulares resultam em um grande impacto ao longo de meses e anos.
Eduque-se continuamente. É confortável fazer apenas aquilo em que somos bons. Mas se você não estiver nem um pouco desconfortável, você não está crescendo. Talvez você ouça podcasts sobre uma nova área que deseja aprender ou faça um curso on-line sozinho. Ou enfrente um pequeno projeto em uma área que é nova e interessante. Uma amiga mencionou que está lendo sobre como a inteligência artificial pode ser aproveitada no jornalismo e se ofereceu para fazer uma apresentação à nossa rede profissional, como forma de consolidar e compartilhar seus novos conhecimentos. Ensinar uma matéria ajuda você a dominá-la.
Desenvolva a compreensão do negócio em que você está. Muitos jornalistas gostariam de manter a cabeça baixa e apenas fazer um bom trabalho. Isso não é mais viável se você quiser estar pronto para impulsionar sua carreira rapidamente. Em vez disso, siga as notícias da mídia e do jornalismo. Converse com outros jornalistas sobre seus locais de trabalho. Preste atenção às empresas que estão contratando, aos anúncios de novas iniciativas de financiamento e às mudanças na forma como os investidores veem o negócio de notícias. Aqueles que fizeram isso viram o início de uma série de demissões em massa, começando com Gannett e CNN no final de 2022 e depois Vox em janeiro. Os jornalistas são especialistas no garimpo de informações e dados e na elaboração de conclusões. Precisamos cobrir a nossa própria indústria da mesma forma que cobrimos as nossas áreas – para que possamos antecipar a turbulência e a mudanças.
Gostou? Até a próxima.